DOIS DE JULHO
A Bahia tem a personalidade de um país e o Dois de Julho é seu principal mito de origem. (José João dos Reis. “O jogo duro do dois de julho: o “partido negro” na independência da Bahia. In: REIS, J. J. e SILVA, E. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 79.)
O Dois de Julho foi a primeira festa cívica do século XIX, na Bahia, quando se passou a comemorar a independência do Brasil com a expulsão dos portugueses de Salvador. A figura acima retrata uma comemoração contemporânea dessa data, com moradores de Salvador e do Recôncavo em trajes de época e suas casas enfeitadas com motivos patrióticos, no contexto político e social baiano, características do processo de independência do Brasil, A participação popular esteve presente na luta contra os portugueses através da atuação da milícia negra e parda, da organização de batalhões por estudantes e no recrutamento de escravos para as forças patriotas.
O Dois de Julho é símbolo da identidade baiana no contexto da independência do Brasil, marcando uma posição de diferença em relação ao calendário oficial das festas cívicas, cuja data tradicional de celebração da ruptura pública entre Brasil e Portugal é o Sete de Setembro. A presença de mulheres nas lutas contra os portugueses é uma característica do contexto da independência do Brasil na Bahia, como é o caso do alistamento de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, que lutou no Batalhão de Voluntários do Imperador. A comemoração baiana do Dois de Julho exemplifica a existência de diferentes realidades sociais e políticas das províncias à época da independência, que empreenderam modos diferentes de lutar contra o domínio português.
Durante os anos 1830 e 1840, os três principais festejos cívicos comemorados em Salvador [o Dois de Julho, o Dois de Dezembro e o Sete de Setembro] tinham programas semelhantes: um desfile militar, incluindo a guarnição do Exército e a Guarda Nacional; um Te‐Deum na catedral; iluminação (decoração) de prédios oficiais (e também particulares); cortejo ao retrato do imperador por autoridades civis, militares e eclesiásticas, e também por cidadãos; vivas coletivas ao dia, ao monarca e às autoridades. (KRAAY, Hendrik. “Definindo Estado e Nação: rituais cívicos na Bahia pós‐ independência”. Em: Topoi, set. 2001, p. 68‐9.)
Os rituais das festas cívicas descritos acima tinham diversas finalidades, contribuindo para o processo cultural de construção do novo Estado e da nova Nação independentes. Estas comemorações oficiais fortaleciam a lealdade ao governo imperial e às autoridades que o representavam na província.
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